YouTubers fazendo vídeos “fake”: que tão ruim é isso?
Desde de que YouTube ganhou força, os canais que estão lá disputam a audiência de milhares (ou milhões) de pessoas. Com uma concorrência cada vez mais grande, tem ficado muito difícil manter a audiência ultimamente, e mesmo canais com milhões de inscritos tem tido dificuldades para continuar tendo sucesso. Infelizmente alguns tem apelado para o tema deste artigo: fazer vídeos “fake”. Vamos entender melhor isso.
Se você acompanha algum canal do tipo “aceito desafios”, cujo conteúdo é voltado para o público jovem, pode ser que já tenha visto o apresentador do canal supostamente cumprindo desafios absurdos, inclusive com grandes riscos para sua saúde ou sua liberdade (sim, porque já houve relatos de vídeos onde se cometem atos ilegais para cumprir um desafio). Mas, você já se perguntou se esses vídeos são “reais”?
Já se viu no YouTube vídeos onde o apresentador diz ter se embalado e se enviado pelos correios, alguém que supostamente passou 24 horas dentro de um túmulo em um cemitério, uma pessoa que supostamente arrancou um dente usando um alicate, pessoas que gravam “assombrações” em sua casa, outros que gravam um suposto “invasor” e até apresentador de canal que cortou o cabelo da mãe e gravou a reação desesperada dela ao perceber o “trote”.
Existem enormes suspeitas de que muitos desses vídeos (pra não dizer todos) são “fakes”, ou seja, a história que eles contam não é real, tudo foi devidamente ensaiado e combinado para que parecesse como a gente assistiu no vídeo. Inclusive existem já alguns canais no YouTube que se dedicam a investigar supostos vídeos “fake”.
O desafio de conseguir chamar e manter a atenção do público
Como já comentamos, existem sim um grande desafio hoje em dia para se manter a atenção do público, que cada vez mais exige coisas diferentes e divertidas de se ver. E como o número de canais no YouTube se multiplica mais rápido que vírus de gripe, por assim dizer, se você hoje navegar pelo YouTube e pesquisar por qualquer tema, você terá literalmente milhares de vídeos para ver. E lógico, não dá pra ver todos, então você vai pelo que te interessa. E qual vai ser esse vídeo? É aí que entra o desespero dos criadores de conteúdo.
É como se todos gritassem “olhe pra min”, “veja meu canal” “olha como sou legal”. E como existem muitas opções, a estratégia de fazer algo “diferente” em geral costuma funcionar. O problema é que muitas vezes esse “algo diferente”, por falta de outra ideia, costuma ser inventado, criado para parecer real e ao mesmo tempo absurdo, para poder chamar a atenção e ao mesmo tempo fazer com que o público queira compartilhar o vídeo, afinal, o que é chamativo é interessante para compartilhar.
Assim nascem os vídeos “fake”. Se você prefere agir sozinho, basta inventar uma boa história, dar um toque de realismo nela, organizar um cenário da maneira mais convincente e pronto. Ou se você preferir, pode chamar amigos para fingirem fazer algo em seu vídeo.
Os canais de Vlog costumam fazer bastante isso. Muitas das histórias contadas nos vídeos nem sempre aconteceram de verdade. E às vezes você percebe isso, porque em um vídeo o apresentador diz ter feito uma coisa, mas em um vídeo posterior ele diz jamais ter feito aquilo. Mas o problema é mais antigo do que você pensa.
Não é só no YouTube que vemos vídeos falsos
Se você acha que apenas no YouTube temos vídeos falsos, você se engana completamente. Rádios nos anos 50 às vezes (ou muitas vezes) davam notícias que não eram totalmente verdadeiras. Em certa ocasião, nos anos 50, uma rádio americana chegou a noticiar uma invasão alienígena. Apesar de depois dizer que a notícia era uma brincadeira, centenas de pessoas entraram em pânico com a informação.
Já na TV, já faz alguns anos, muitos devem se lembrar da ocasião em que o apresentador, então no SBT, Gugu Liberato, supostamente entrevistou um membro do PCC (Primeiro Comando da Capital), uma organização criminosa. Depois foi revelado que na verdade o entrevistado era um ator contratado para parecer um membro de tal organização. O episódio com certeza manchou a reputação tanto do apresentador quanto do programa.
Existe ainda o “mercado de figurantes”, muito usado por programas de TV onde supostamente uma pessoa com um problema familiar vai resolver esses problemas “ao vivo” com as partes envolvidas (briga de marido e esposa, disputa de paternidade, etc). Existem vídeos que parecem comprovar que alguns desses programas contratam figurantes para fingirem ser membros de família em alguma disputa ou problema. Um dos vídeos que afirmam que são atores mostra uma jovem em um programa brigando com um membro de sua família e também em outro programa, mas com outro nome e outro marido!
E você já se perguntou se nesses programas de TV por assinatura onde se ajuda a uma família com a reforma de sua casa ou se negocia itens raros se tudo já não foi combinado previamente?
Hoje em dia, a ficção quer parecer cada vez mais a realidade. E quanto mais fantástica for a ficção, mais ela precisa ser maquiada de realidade. Dessa forma, se consegue convencer ou pelo menos confundir a muita gente, gerando audiência.
Então o que muitos YouTubers têm feito é simplesmente copiar algo que a mídia do entretenimento já faz por vários anos.
Mas então, como devemos ver os vídeos fake?
Isso depende. O vídeo foi criado com a intenção de apenas divertir? Nesse caso, não se preocupe, pois se você gostou do vídeo e achou interessante, o vídeo cumpriu bem seu papel. Apenas você precisa ter um sentido crítico para diferenciar o que é real do que é ficção, coisa que cada vez é mais difícil.
Agora um vídeo que supostamente quer te informar com uma notícia falsa, precisa ser rejeitado completamente.
O bom senso precisa reinar. Imagine o que seria desses YouTubers se eles não pudessem inventar essas histórias? Imagine se ninguém acreditasse em histórias do tipo “um estranho colocou cadeado no portão da minha casa e fiquei preso 3 dias”. Ou que “um invasor” (que inclusive é mencionado como se fosse o título de um personagem, “o invasor”) realmente estivesse invadindo a casa de uma pessoa e isso servisse para gerar audiência para o dono do canal? O mais curioso é que quando outro canal tenta mostrar que certos vídeos são falsos, o dono do canal acusado em vez de se defender, geralmente o que ocorre é uma ameaça (sem nenhum contra-argumento).
Se divirta, mas saiba a diferença entre ficção e real
No YouTube você pode encontrar vídeos falando praticamente de qualquer assunto. Não tem nenhum problema em você acompanhar um canal que muitas vezes faz vídeos com histórias “fictícias” se você se diverte com eles. Mas você precisa saber a diferença entre o real e o fictício, e hoje em dia, a maioria dos vídeos “hard core” ou extremos no YouTube são ensaiados, ou a história narrada é totalmente inventada.
Valorize quem te valoriza e não quem subestima sua inteligência e seu bom senso. Lembre-se disso.
Até o próximo artigo!
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